Agora ela caminhava sozinha, rosto triste e pálido, se sentia diferente das outras crianças. Um mundo de sorrisos falsos a cercava, um mundo de angustia a puxava para si cada vez mais. Diferentemente das outras criancinhas mimadas, ela agora andava mal vestida, seus cabelos estavam sempre soltos e se moldavam conforme o vento, em seu rosto passava longe do tempo um sorriso, mais nem sempre fora assim.

Lá, bem distante ela via as crianças com seus pais. Lá, bem no fundo de sua alma, relembrava sua amargura. Um vestidinho preto, cabelo logo e solto ao vento, duas rosas jogadas sobre a lápide de seus pais.
Agora ela estava ali, sozinha. Sem quem à amparar, sem quem à pudesse acolher, ela vagava com um simples cartãozinho na mão. Correu com os olhos cheios de lágrimas, correu para junto de sua mãe. Sentada, sobre uma lápide de mármore, a garota que vivia por volta de seus nove anos, lia um pequeno cartãozinho com os olhos inundados e o coração apertado de saudade.
Deitou-se sobre aquele local frio, podia sentir a respiração de sua mãe, podia sentir sua mão tocado na dela, podia ouvir sua doce voz dizendo: " durma com os anjos, filhinha".
Um aconchego tremendo, para uma pobre criança órfã. Com as pupilas dilatadas e com o rosto coberto de lágrimas, ela não conseguia mais parar de chorar, não conseguia fazer nada além de lembrar de sua família. Lembrava como fora feliz no último ano, lembrava como tudo realmente foi bom. O almoço de família, o churrasco na varanda, a galera reunida para assistir o especial do Fábio Júnior na tv, era tudo perfeito de mais para ser para sempre.
Enxugando as lágrimas do rosto, levantou-se. Segurou o cartão ,escrito a próprio punho, contra o peito e abraçou-o como se abraçasse sua própria mãe. Uma sensação reconfortante tomou-lhe o peito, finalmente abriu um breve sorriso e disse ainda com a voz tremula: "Parabéns pelo seu dia, mamãe".



A.