A brisa suave da noite tocava-lhe a pele enquanto os demonios de seu passado atormentavam sua mente. A lágrimas não paravam de fluir, o desespero era ainda maior a cada segundo. As súplicas de um amor perdido, a dor de um coração destruído e os demonios em sua mente não a deixavam viver.

A cada grau que a temperatura caia, aumentava sua solidão. Cada gota de chuva que o céu iluminava, inundava seu coração. Ela sempre soube que as pessoas eram assim. Ela sabia muito bem que quando se trata de sentimentos algumas coisas nunca tem um fim.

A chuva continuava fria e serena. A natureza compartilhava sua dor. Mesmo sentimento, mesma desilusão, mesmos acontecimentos, mesmo silêncio. Como é possível esta repetição macabra do destino?
Sorriu ao esticar as mãos para sentir na pele aquelas gotas gélidas que caiam do céu. Lembrou-se dos tempos de menina, lembrou-se que quando ficava escuro sentia um frio tomar-lhe o corpo. Lembrou-se também que com o tempo esse frio desaparecera. "Olhe lá longe" - apontava o homem que segurava sua filha na janela e abraçado a ela ensinou que não havia nada mais belo no mundo do que a chuva. "A fúria dos céus, vem para lavar o corpo e purificar a alma" - sorria e com sua confiança acalmava a garotinha.
Bem, agora a ''fúria dos céus'' caia sobre ela. Desejou naquele momento que estas águas purificassem sua alma. Retirassem seus demonios, limpassem suas lágrimas. Ela só queria se ver livre de todo aquele sentimento. Ela só queria se sentir acolhida nos braços de alguém de novo. Como uma garotinha que olha com o pai a tempestade, ou como uma mulher que observa com o amado a lua iluminando as gotas do céu. Queria se sentir protegida, se sentir acolhida, se sentir alguém.
A.